Acervo se soma a 1.367.813 itens do Sistema de Bibliotecas da Unicamp, instância fundamental nas atividades de ensino, pesquisa e extensão
A biblioteca do professor, ensaísta e crítico literário Antonio Candido de Mello e Sousa, composta por aproximadamente seis mil livros, acaba de ser doada pela família do intelectual à Unicamp. A transferência do acervo, que já está de posse da Universidade, foi oficializada por meio de carta assinada no último dia 10 de julho pelas três filhas de Antonio Candido, Ana Luisa Escorel, Laura de Mello e Souza e Marina de Mello e Souza. Depois de analisados e catalogados, os volumes serão incorporados às Coleções Especiais e Obras Raras da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL).
Os livros que integram a biblioteca doada à Unicamp abrangem diferentes áreas do conhecimento, entre as quais literatura, história, sociologia, antropologia e geografia. Entre os volumes estão também itens raros, como as primeiras edições de obras de Oswald de Andrade e Mário de Andrade, sendo que muitos exemplares contêm dedicatórias desses autores. Há, ainda, títulos de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Gilberto Freyre, Alvaro Lins, Sérgio Buarque de Holanda, Clarice Lispector e Lygia Fagundes Teles.
Ademais, o acervo é constituído por uma importante Proustiana, compreendendo um número considerável de edições da obra de Marcel Proust, bem como de estudos sobre o escritor francês. “Trata-se do conjunto de livros que Antonio Candido manteve consigo até morrer, uma vez que ao longo da vida doou quantidades significativas de títulos para diferentes bibliotecas, inclusive da Unicamp. Os livros ora oferecidos em doação são os que escolheu manter perto de si, bem como os mais valiosos”, afirmam as filhas do intelectual em carta enviada ao reitor Marcelo Knobel.
A coordenadora-geral da Universidade, professora Teresa Atvars, considera uma grande honra receber a biblioteca de Antonio Candido. “Ele ajudou a construir a Unicamp, fundando o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Além disso, deixou um enorme legado em suas áreas de atuação e participou ativamente da vida brasileira, sobretudo na defesa da democracia”, pontua a dirigente. De acordo com a coordenadora associada da BC-CL, Valéria dos Santos Gouveia Martins, “os volumes serão inicialmente analisados, catalogados e tratados tecnicamente, para depois serem incorporados às Coleções Especiais e Obras Raras e ficarem disponíveis para consulta”, explica.
A escolha da Universidade para receber a biblioteca de Antonio Candido é um reconhecimento à importância da instituição e também ao Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU). O SBU, que está vinculado à Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), é composto por 29 bibliotecas, sendo uma central, uma de área (Engenharias) e 27 localizadas nas faculdades, institutos e centros e núcleos de pesquisa. Mais que armazenar livros, esse sistema constitui um valioso conjunto de fontes de informação, disponíveis em diversos suportes, que incluem bases de dados, catálogos de bibliotecas, repositórios institucionais, patentes, teses, periódicos científicos etc.
Os números relacionados ao SBU impressionam pelo tamanho e são reveladores do indispensável suporte que o sistema oferece às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Segundo os últimos dados consolidados, o acervo possui 1.367.813 itens. Entre eles, 42.311 periódicos eletrônicos, 484 bases de dados e 273.674 e-books. Em 2017, o orçamento do SBU foi de R$ 12,9 milhões. “É fundamental para a Unicamp contar com um complexo de bibliotecas que atenda de modo adequado às necessidades de natureza acadêmica dos alunos de graduação e pós-graduação, assim como as áreas de pesquisa e inovação”, entende a coordenadora-geral. Segundo a professora Teresa Atvars, o SBU é considerado historicamente, por todas as gestões, como estratégico para as atividades da Universidade.
Valéria Martins observa que o SBU mantém contatos e colaborações com as melhores bibliotecas do exterior. “Nossas atividades têm padrão internacional. Estamos sempre atuando no sentido de atualizar nossos acervos e serviços. Além disso, os profissionais vinculados ao sistema participam periodicamente de cursos e congressos. A cada experiência desse gênero, nós promovemos um encontro no qual compartilhamos os conhecimentos adquiridos com toda a equipe”, relata.
Paralelamente a essas atividades, o SBU desenvolve ações específicas com cada um dos seus públicos. No caso dos estudantes de graduação, por exemplo, existe uma preocupação de transmitir a esse segmento boas práticas de pesquisa. “Temos atuado no sentido de esclarecer os alunos sobre o que é plágio e como fazer as citações em seus trabalhos acadêmicos. Utilizamos o software Turnitin, que verifica a originalidade dos textos, apontando para as semelhanças entre o texto apresentado e os documentos contidos na base de dados do sistema e páginas da internet. Também pretendemos oferecer em breve aos estudantes de graduação, seguindo as diretrizes do nosso planejamento estratégico, uma oficina para orientá-los a utilizar os nossos recursos informacionais da melhor forma possível”, adianta a coordenadora associada do SBU.
Em relação à pesquisa, prossegue Valéria Martins, o sistema consolidou uma importante parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP), no sentido de qualificar ainda mais o repositório de produção científica da Unicamp e a gestão dos dados de pesquisa. “Um ponto que temos destacado para os nossos docentes e pesquisadores é a importância do uso do ORciD [Open Researcher and Contributor ID], uma ferramenta digital de identificação que permite ao usuário armazenar e gerir informações relativas à sua produção junto às entidades científicas”, diz. Espera-se que todos os docentes e pesquisadores da Unicamp adotem, em breve, esta “identidade”.
No âmbito da extensão, o SBU tem participado ativamente ao longo dos últimos anos de importantes programas da Universidade, como o Ciência e Arte nas Férias, destinado a estudantes do primeiro e segundo ano do Ensino Médio de escolas públicas de Campinas, Valinhos, Vinhedo e Jaguariúna, Limeira e Piracicaba; e o UniversIDADE, criado para oferecer às pessoas acima dos 50 anos, integrantes ou não da comunidade universitária, um conjunto de atividades capaz de mantê-las ativas física e mentalmente.
Novo momento
A professora Teresa Atvars destaca a importância de o sistema de bibliotecas estar se modernizando constantemente e em contato com os seus públicos. “À medida que a tecnologia evolui, nós também temos que evoluir. O modelo de ‘biblioteca’ da época em que eu ingressei na Unicamp, para fazer pós-graduação, não existe mais. Ela deixou de ser apenas um edifício que ‘abriga’ livros e fonte de consultas. Hoje, graças aos recursos na área da Tecnologia da Informação e Comunicação, a biblioteca não abre e não fecha mais. Uma tese defendida, um livro, um manuscrito e uma obra podem ser consultados via internet, a qualquer hora do dia ou da noite, de segunda-feira a domingo. Ao mesmo tempo, temos usuários que querem ou necessitam comparecer fisicamente às nossas unidades. Isso nos obriga a estarmos preparados para atender adequadamente tanto online quanto o usuário presencial”, exemplifica.
Ao mesmo tempo, acrescenta a coordenadora-geral, há uma demanda crescente por parte dos usuários do SBU por espaços compartilhados, ambientes nos quais possam ocorrer estudos e discussões de maneira coletiva. “Estamos caminhado para esse modelo, a exemplo do que estão fazendo algumas bibliotecas no exterior”, garante Valéria Martins. Segundo ela, o SBU está analisando a criação de um Espaço Maker, local que estimula o conceito de “fabricação digital”. Nele, os usuários colocam a mão na massa para dar, de forma colaborativa, concretude a diferentes projetos.
Indispensável assinalar ainda, conforme a professora Teresa Atvars, a importância das coleções físicas, dado que elas têm um forte componente de natureza histórica, aspecto importante para qualquer área do conhecimento. “Trata-se de um patrimônio que precisa ser preservado. A biblioteca do professor Antonio Candido vem se somar a várias outras. O equilíbrio entre a biblioteca moderna e a tradicional é que oferece uma enorme riqueza de possibilidades à nossa produção acadêmica”, analisa a docente.
Acessibilidade
Um componente de destaque no trabalho do SBU é o seu Laboratório de Acessibilidade (LAB), pioneiro no Brasil. Criado em 2002 com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o objetivo do LAB é proporcionar aos usuários com necessidades especiais um ambiente adequado à realização de seus estudos e pesquisas, com maior autonomia e independência. O espaço está situado no primeiro andar da BC-CL. O funcionamento é de segunda à sexta-feira, das 9h às 17h.
Segundo a professora Teresa Atvars, uma coisa é ter uma biblioteca capacitada para atender a pessoas sem qualquer necessidade especial. Outra é dispor de um espaço perfeitamente montado para atender também aos usuários com deficiência. “Nós dispomos de recursos que permitem que um cego, por exemplo, possa acessar o conhecimento. Ainda não atingimos o ponto ideal, mas a Unicamp é uma das poucas universidades brasileiras na qual um deficiente visual pode assistir a uma aula superando parte de suas dificuldades. É estratégico continuarmos buscando as melhores formas de apoiar as pessoas com deficiência”, declara a coordenadora-geral.
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Leia mais:
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/dezembro2006/ju346pag6-7.html
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/maio2004/ju250pag05.html